Em Estremoz, a Herdade das Servas recebe, a 21 de setembro, o primeiro encontro de viticultores que seguem as regras da Agricultura Regenerativa – o Regenerative Wine Fest –, porque quer explicar à sociedade o que isso de se ser Viticultor Regenerativo. Será uma festa, com debates, e a ideia é divertirmo-nos e aprendermos qualquer coisa.
Na Herdade das Servas, tudo o que fazemos resulta da paixão, do respeito pela verdade e do estudo sem pressas. Somos alentejanos e gostamos de produzir vinhos alentejanos com uvas alentejanas e apenas das vinhas que cuidamos. Alguns poderão estranhar que uma empresa que cuida de 350 hectares próprios adote a filosofia da Viticultura Regenerativa, por ser algo que choca contra os modelos ditos científicos e não se guiar por um protocolo universal.
Mas, em rigor, a nossa opção até segue a regra que faz mover a ciência: a dúvida. Ou, melhor: as dúvidas. E as dúvidas são estas: se no tempo dos meus avós faziam-se dois ou três tratamentos por ano, por que razão temos hoje de fazer o triplo ou o quadruplo dos tratamentos e adubações? Se no tempo dos meus avós as vinhas resistiam a inúmeras pragas, por que razão temos hoje de fazer tratamentos agressivos de forma preventiva? Se no tempo dos meus avós havia uma riqueza tremenda em termos de fauna e flora nas vinhas, por que razão, hoje, as vinhas parecem campos sem cheiro, sem vida e monocromaticamente verdes?
Temos mais ciência, mas, ironicamente, gastamos mais dinheiro porque as vinhas se tornaram incapazes de se defender de um conjunto de doenças. Isto faz sentido? Isto é racional? Isto é sustentável? Eu acho que não. Assim, a questão que devemos colocar é por que razão chegamos a este ponto? A resposta parece óbvia: nós, com a abordagem convencional, promovemos, desde o final da II Guerra Mundial, um desequilíbrio tal nos ciclos da natureza que as vinhas e as culturas agrícolas em geral perderam a capacidade de se auto defender.
E é aqui que entra a Viticultura Regenerativa, que, como o próprio nome indica, tem como finalidade regenerar os ecossistemas, tornando-os naturalmente resilientes. Ao contrário de outros sistemas de produção, a Viticultura Regenerativa assenta num princípio que até uma criança entende: um solo saudável e equilibrado dá origem a videiras saudáveis; videiras saudáveis não necessitam de adubações agressivas ou pesticidas e herbicidas de síntese e, em consequência, dão frutos sãos e livres de resíduos que depois serão transformados em vinho.
A Serrano Mira criou o Regenerative Wine Fest porque entende que chegou a hora juntar num mesmo espaço (Herdade das Servas, em Estremoz) aqueles que praticam de forma séria a Viticultura Regenerativa, por forma a que partilhem as suas experiências e alguns dos vinhos que produzem.
Vamos fazer uma festa – com vinhos, comida e música – e debater diferentes temas importantes que interessam a quem pratica ou quer praticar Viticultura Regenerativa e a quem entende que o conceito da sustentabilidade caiu na banalidade. Em Viticultura Regenerativa não há protocolos rígidos. Há é uma vontade enorme de produzir vinhos com identidade regional e recuperar os ecossistemas. E – muito importante – fazer tudo isso com o respeito pela verdade.
Quem gostar de vinho, de natureza e festa será muito bem-vindo!
Luís Serrano Mira
Produtor e proprietário da Serrano Mira - Herdade das Servas